Segundo muitos autores e estudiosos, foi por volta de 1340, que os primeiros indícios da aplicação da contabilidade com a escrituração no método de partidas dobradas (crédito x débito), foram encontrados. Outros autores ainda afirmam que aproximadamente 2.000 a.C. já foram encontrados sinais objetivos da existência de contas. Embora haja indícios anteriores, foi em 1494, na Itália, que de fato o primeiro livro que trata de contabilidade foi publicado. Seu autor era um frei franciscano e célebre matemático chamado Luca Pacioli (Paciolo)¹ que vivia na cidade de Veneza, e o nome do livro é “Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornalità”, ou em português algo como “Coleção de conhecimentos de aritmética, geometria, proporção e proporcionalidade”. No livro supracitado, é enfatizada a teoria contábil do débito e do crédito correspondente à teoria dos números positivos e negativos. Este método teve rápida difusão, sendo aceito de forma universal e adotado desde então até os dias modernos.
Luca Pacioli nasceu na região italiana da Toscana, no então Borgo di San Sepolcro (hoje Sansepolcro), por volta de 1445.
Luca Pacioli
Paciolo viveu numa época de ouro da civilização mundial, onde era grande o apoio à cultura, esta fortemente incentivada por Cosme dos Medici. Todo esse incentivo à cultura criara uma atmosfera de intelectualidade e assim, florescia a Renascença.
Paciolo conviveu e compartilhou experiências com os mais célebres pensadores e gênios da humanidade, tais como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Maquiavel, Lourenço o “Magnífico”, Savonarola, Piero della Francesca, dentre outros, sendo este último um grande matemático e pintor e o responsável pela educação de Paciolo já em sua infância.
Já aos vinte anos de idade, Paciolo vai para Veneza² onde empregou-se na casa de Rompiaci, próspero comerciante judeu. Em Veneza estudou na Escola de Domenino Bragantino, matemático conhecido na época e aos vinte e cinco anos publicara sua primeira obra, esta dedicada aos números e cálculos. Não existem provas materiais dessa obra, porém sabe-se que ela existiu, pois o próprio Paciolo se refere a ela em sua grande obra “Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornalità”.
A necessidade natural de obter mais conhecimentos e seu apetite cultural, fez com que por volta do ano de 1470, Paciolo partisse rumo a Roma, onde passa a residir na casa de Alberti. A aproximação com o religioso desperta em Paciolo o interesse pelo estudo da Teologia e da Filosofia, que lhe causam grande influência. Essa influência faria com que Luca Pacioli, viesse à ingressar na ordem franciscana, embora alguns autores acreditam que a religiosidade se dá ao fato de que dois irmãos seus já haviam ingressado em tal Ordem.
Por volta de 1471 Paciolo, após retornar de Roma torna-se Frei Luca Pacioli, e logo depois leciona matemática em Perugia, o que provavelmente se dá entre 1475 e 1480 e é nesta cidade que escreve seu segundo livro, ainda sobre álgebra³. Nesta cidade permanece até provavelmente em 1480, quando retorna a Veneza e logo em seguida para Zara, na Iuguslávia, onde escreveu seu terceiro livro de matemática em 1481. Deste livro não se tem cópia, a única referência é encontrada em “Summa” esta publicada em 1494.
Paciolo era amigo de Leonardo da Vinci, e ambos partiram para Milão onde permaneceram de 1496 a 1499, sob a proteção de Ludovico Sforza. Devido à invasão francesa, ambos perdem o apoio de Ludovico e se retiram de Milão e passam rapidamente por Mantua e Veneza, para somente depois irem residir em Florença. Porém tudo leva a crer que já num momento seguinte os dois se separaram e vieram a se reencontrar somente em 1514. Ainda entre 1500 e 1507, o frei Paciolo leciona nas Universidades de Pisa e de Bolonha. Em 1508, profere em Veneza uma aula na abertura de um curso na Igreja de São Bartolomeu do Rialto. Em 1510, foi nomeado Comissário do Convento Franciscano de Sansepolcro, onde permaneceu até 1514, quando devido ao convite do Papa Leão X, o frei vai lecionar em Roma e se dá o reencontro com Leonardo da Vinci.
Segundo estudos do reverendo Ivano Ricci, a morte de Luca Pacioli se dá em 1517.
Embora vários sejam os indícios de que o método das partidas dobradas já existiam foi de fato o Frei Luca Pacioli o responsável pela sua difusão. Conhecida como “Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornalità”, foi esta a obra o marco para a história da contabilidade moderna.
A escrituração contábil pelo método de partidas dobradas é caracterizada pela necessidade de que para cada crédito exista consequentemente um débito do mesmo valor e vice-versa.
Exemplos de escrituração contábil pelo método de partidas dobradas:
Compra de um veículo a vista
D – Ativo – Não Circulante – Imobilizado – Veículo R$ 50.000,00
C – Ativo – Circulante – Caixa R$ 50.000,00
Compra de mercadoria a prazo
D – Ativo – Circulante – Estoque – Mercadoria para venda R$ 15.000,00
C – Passivo – Circulante – Fornecedores R$ 15.000,00
Esse método revolucionou a contabilidade até então conhecida, e fez com que a mesma alcançasse um patamar de prestígio e importância social entre as ciências.
Principais obras de Luca Pacioli:
De divina proportione
Particularis de Computis et Scripturis
De viribus quantitatis
Ancient double-entry bookkeeping
De Ludo Scachorum
Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornalità
Bibliografia
SÁ, Antônio Lopes de. LUCA PACIOLI: Um mestre do renascimento. 2. ed. Brasília: Fundação Brasileira de Contabilidade, 2004.
SLOMSKI, Valmor. MANUAL DE CONTABILIDADE PÚBLICA: Um enfoque na contabilidade municipal, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
IUDÍCIBUS, Sérgio de. TEORIA DA CONTABILIDADE. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
GIAMBIAGI, Fábio. FINANÇAS PÚBLICAS: Teoria e prática no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
GUERRA FILHO, Willis Santiago. GARBELLINI CARNIO, Henrique. TEORIA POLÍTICA DO DIREITO: A expansão política do direito. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
Notas
¹No idioma italiano da Toscana da época de Luca Pacioli os sobrenomes terminados em I, quando junto do nome conserva o I (Luca Pacioli), porém quando o sobrenome é escrito separadamente, então o I torna-se O (Paciolo).
²Acredita-se que buscava trabalho já que em sua terra natal o mercado de trabalho era reduzido.
³Esta obra é conservada na Biblioteca do Vaticano e abrange Aritmética, Geometria, Álgebra, etc. sendo que alguns autores acreditam que tal obra possa ter sido o embrião da “Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornalità”.
Colaboração de Adilson Balsanelli, contador público da Prefeitura Municipal de Luiz Alves/SC.